Inflação: será que teremos uma surpresa positiva nos próximos meses?
Não só o Brasil, mas também o mundo, está passando por algo como um choque monetário dentro do choque monetário. Além da alta de juros, que reduz a atividade econômica, o efeito Lojas Americanas aqui dentro e uma crise bancária limitada lá fora criam um choque adicional ao reduzir o apetite dos bancos por prover novos empréstimos e buscar ter mais liquidez. Com isso, aliado também a um inverno menos rigoroso no hemisfério Norte, observamos várias commodities com preços abaixo daqueles no início de 2022, pré guerra da Ucrânia. O petróleo WTI estava um nível de $83 por barril em dezembro de 2021 e agora se encontra em cerca de $69, ou seja, uma queda de 17%! Isso após ter atingido cerca de $120 algumas vezes entre fevereiro e julho de 2022. Segundo algumas consultorias, no dia 22 de março a gasolina no Brasil estava cerca de 10% acima da paridade internacional. Então a perspectiva nos preços no Brasil em teoria é desinflacionária. Só não é uma questão direta porque o governo está reonerando alguns produtos como a gasolina e deve compensar parte dessa queda de preços. E quando analisamos os dados mais recentes de inflação, que é o IPCA-15 de março, já verificamos que a tendência da inflação é de uma convergência pelo menos ao topo da meta, quem sabe ainda em 2023. A taxa de inflação em 12 meses desacelerou para 5,36%, com uma inflação de 0,69% vs uma inflação de 0,95% em 2022. Vale ressaltar que sazonalmente o primeiro trimestre tende a ser o pior na inflação, com vários impactos, como reajuste de educação e uma alta na inflação de alimentos. O relatório Focus do BC ainda está bastante pessimista, com projeção de uma inflação de 5,95%, ou seja, a inflação teoricamente seria pior até o fim do ano versus 2022. Não nos parece razoável... É provável que tenhamos uma surpresa positiva, ainda mais porque o BC mantém um tom duro de juros e isso está pesando na atividade. Nos resta torcer para o governo federal reduzir o nível de ruído e com isso permitir a queda do dólar que por sua vez reforçaria a desinflação.