Juros: estamos em um nível muito alto?
Via de regra, quase todas as críticas à gestão da economia advindas de partidos de esquerda tendem a ser frágeis, baseadas em análises simplistas de capital vs trabalho e afins. E a grande crítica do momento do novo governo é o nível da taxa de juros do Brasil, que está em 13,75%. Se observarmos as principais economias do mundo, temos um nível taxa de juros entre -0,10% (Japão) a 6,50% (Índia) e a larga maioria entre 4 e 5%. Portanto a taxa de juros do Brasil está mais 5pp acima da média das principais economias. E quando comparamos o nível de inflação, observa-se que o Brasil está próximo da média - em torno de 6% nos últimos 12 meses. Vale ressaltar que tivemos um efeito da redução de impostos nos combustíveis, tanto no ICMS, quanto no PIS/COFINS e estes dois impostos federais teoricamente voltarão ao normal em breve, aumentando a inflação em torno de 0,8%. Mesmo assim, chegamos à conclusão pelo grande diferencial de taxa de juros, que o Brasil se encontra no momento com uma bazuca de política monetária. É uma taxa de juros que tende a ser mais negativa do que positiva para a economia, causando grande dano ao consumo e ao déficit público nominal, além de acabar sendo um instrumento perverso de enriquecimento das classes mais favorecidas, que podem ter um retorno sem risco de 13-14%. Por outro lado, exatamente o risco de irresponsabilidade fiscal do novo governo é um dos fatores que limita a redução dos juros. Se o novo governo tiver uma sinalização mais positiva, o dólar corre o risco de afundar, reduzindo assim a inflação e abrindo espaço para uma redução de juros, o que traria um ciclo virtuoso. O fato é que o Brasil está na frente das principais economias do mundo no que tange ao combate da inflação e alguns fatores no médio prazo são muito auspiciosos, como a questão da energia elétrica, com reservatórios das hidroelétricas que podem chegar ao final do período chuvoso com mais de 90% da capacidade, algo quase inédito. Portanto, temos uma oportunidade de reversão da taxa de juros, mas é preciso a sinalização correta para termos sucesso tanto no combate à inflação, como na promoção do crescimento econômico.